segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Algumas considerações acerca de "ideologias"

Num país onde uma pessoa que comete um acidente de trânsito (provocando, inclusive morte de inocentes), mas pode pagar uma multa de mais de duzentos mil reais e manter-se livre para responder o inquérito, quiçá, permanecerá, haja vista as lacunas existentes em nossa legislação, quem sabe, talvez, feita com esse próprio intuito...

Segue logo abaixo um pequeno fragmento sobre ideologia, hierarquia, cultura e sociedade autoritária, extraído da minha dissertação de mestrado e logo abaixo um vídeo de Gabriel, O pensador, que fala um pouco sobre a temática...

Have a  nice week!!

SILVA, João Batista da. A violência policial militar e o contexto da formação profissional: um estudo sobre a relação entre violência e educação no espaço da Polícia Militar no Rio Grande do Norte. Dissertação ( Mestrado em Ciências Sociais).  Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.  Programa de Pós-Graduação em Estudos da linguagem. 129 f.
 


A partir de uma exegese de ideologia, numa perspectiva chauiniana[1], entende-se que o corpo social através de sua tessitura engendra as instituições de dominação e sujeição das sociedades. As esferas familiar, religiosa, escolar, de Estado (político, jurídico, administrativo e de repressão) constituem o locus da dominação, controlando/regendo as relações sociais, através da Cultura. Ora, na medida em que as instituições que atuam pela ideologia (família, escola, Igreja, mídia etc.) moldam/constroem os perfis sociais (o habitus, nos moldes bourdieunianos)[2], a estrutura administrativa de Estado (de coerção e de repressão), legitimam-se através das demandas sociais que locupletam a dinâmica da sociedade, reificando e naturalizando a dominação cultural.

Assim, as várias formas de manifestações e expressões, dentre elas as canções, atuam no campo cognitivo (seja na seara castrense, religiosa, ou no convívio social), em geral, modelando as formas de agir e de pensar[3] do corpo social; seja em menor ou maior escala, como podemos constatar a partir das mais heterogêneas instituições (principalmente, quando agem a partir da repressão como é o caso das instituições policiais, mas que também se reproduzem através da dissimulação da violência simbólica[4]). Deve-se ressaltar, entretanto, que as especificidades de cada sociedade dependem, sobretudo, das particularidades e nuanças nas quais elas se originaram e constituíram-se ao longo de sua historicidade. O que, no caso brasileiro, aconteceu (e ainda acontece) nas instituições militares, sejam elas policiais ou não, e que continuam a constituir um imaginário brasileiro de uma sociedade hierarquizada e autoritária. A antropóloga Teresa Pires do Rio Caldeira abordando a temática do autoritarismo e da hierarquização, em uma de suas obras, afirma que a formação sócio-cultural brasileira, ao longo de sua história, internalizou mecanismos de inferioridade, de submissão e auto-penalização, acatando os disciplinamentos que os castigos físicos (de outrora) inculcaram no imaginário brasileiro, produzindo uma pseudo-idéia de lei e de direitos[5].
                

É, pois a partir dessas especificidades que é constituída a sociedade brasileira, legitimando o autoritarismo e a hierarquização e deslegitimando os direitos e a cidadania (por conseguinte, fomentando a proliferação da violência e a negação de direitos) e, inconscientemente os poderes legais constituídos.


[1] CHAUI, Marilena de Souza. O que é ideologia. São Paulo:Brasilense. 1981 (Coleção primeiros passos).
[2] BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva.In: O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001.
[3] Conforme DURKHEIM, Emile. A regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret. 2001, p. 40.
[4] BOURDIEU, Pierre. Uma imagem ampliada. In: A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999, p. 47.
[5] CALDEIRA, Teresa Pires do Rio.  A polícia uma longa história de abusos. In: Cidade de muros: crime segregação e cidadania. Ed. Edusp. 2000. p. 136.



4 comentários:

  1. O tema de vossa Dissertação é deveras importante e digno de ser debatido.

    Mesmo sem conhecer o teor da Dissertação, em comento, numa discussão em sala de aula, quando Vossa Senhoria lecionava a Disciplina Sociologia, no ano de 2010, comentei que em pleno século XXI, as canções militares ainda são discriminatórias, induzindo a violência policial.

    Acredito "que mesmo de forma dissimulada algumas canções são extremamente pejorativas e descriminatórias". (SILVA, 2009, p.44-45).

    As polícias militares parecem não entender que o "civil", hoje é quem manda, por exemplo, no Ministro da Defesa, nas Secretarias de Seguranças, etc.

    Como cobrar de um policial recém-formado que trate bem os seus "clientes", se não é isso que ele aprende em sala de aula, que o cidadão não é o inimigo, que ele (policial) não é um guerreiro, mas sim um servidor, que deve prestar um serviço a "segurança pública" e não a sensação de segurança, que deve policiar e não patrulhar.

    Os policiais recém-formados estão saindo dos centros de formações, para combater o inimigo.

    Como o "monstro" de um aluno, ou mesmo um "bisonho" pode prestar um bom serviço, se parece que não é isso que ele aprende em sala de aula?

    Acredito que muitos são os fatores que interferem na formação de um operador da segurança pública, assim sendo parabenizo Vossa Senhoria pela temática escolhida.

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  2. Thanks a lot of for yours comments, may dear Josevan!!!

    Creio que demanda algumas gerações para que nossa sociedade consiga perceber e conceber um policial capaz de atender as necessidades da sociedade atual. Mas sou otimista, pois recém saídos de um Estado de exceção (não completamos nem 30 anos do período ditatorial 1964-1985), já conseguimos vislumbrar a luz no fim do túnel e, vários são os canais de discussão e argumentação que se abriram no Brasil contemporâneo (Imprensa, MP, Ouvidorias, Corregedoria, etc), basta que as pessoas comecem a exercer o seu papel para que a Democracia, torne-se realmente participativa...

    Have a nice holiday..

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  3. Observando com mais vagar o blog e seus conteúdos, me sinto na necessidade de tecer elogios e parabenizar o Capitão Batista pela iniciativa de abordar concomitantemente em um mesmo espaço de comunicação dois temas extremamente relevantes de convívio, ascensão e libertação social: Segurança pública e Educação. Para que se compreenda o quão importante essa inter-relação entre ambas, pois aquela só será eficiente e eficaz em atender aos anseios sociais e estatais, quando estiver constantemente influenciada e moldada por esta.

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  4. Olá meu caro Janilson!!

    Thanks a lot of for your comments, again!!!

    Como você asseverou e nós aqui defendemos, que uma sociedade só se torna democrática se tiver dos pilares basilares The first one, é a Educação, pois é a partir dela que uma sociedade pode se sedimentar. Já o segundo, infelizmente é necessário para corrigir os desvios que, que por ventura, o primeiro não tenha sedimentado. Nessa perspectiva, já no início do século passado o sociólogo francês Émilie Durkheim asseverou que “ crime é um fato social”. Assim sendo, não há sociedade, infelizmente sem ele, inclusive, porque ele tem uma função social...

    Voltaremos à temática com mais vagar!

    Je vous embrasse..

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